4 de fevereiro de 2012

A ruína da baixa de Faro



Razões para a queda e falta de futuro




Muitos falam e outros escrevem sobre Faro, clamam o declínio, lambem-lhe as feridas, profundas, choram os prejuízos do seu tecido económico central e repetem soluções que, ou não são ouvidas ou para as quais não têm intenção de se mobilizar.

As duas últimas décadas de enaltecimento da nação para cobrir uma larga irresponsabilidade política de um progresso feito em cacos, tal como os analistas em contrição lhe atribuem o delírio nacional de crescimento assente em pressupostos errados, também em Faro temos largas manifestações dessa elevação política que foi alargando os limites sem cuidar de preservar e dar fôlego ao coração.

A especulação aliciou, montou o seu quadro fantástico de grandeza e abundância onde qualquer autarca se revia e delirava de exaltação pública de obra e poder, e ,no sentido oposto, renunciava ao bom senso de preservar o que de histórico alimentou a cidade e as suas gentes, em páginas de história que sempre nos engrandeceram.

O abandono que hoje representa um retrato negro de um centro histórico envelhecido tem razões de culpa na cegueira da condução política autárquica, na forma como embalaram em estratégias de avultados proveitos imediatos para os cofres e não devolveram qualquer retribuição às origens.

A baixa, os seus empresários e as suas associações foram actores passivos, resmungaram, assistiram, nunca assumiram as suas ilusões e ineficácia e a saída foi o colaboracionismo com os que no poder os prejudicavam, um pouco dando razão aos apelos individualistas que os caracteriza, porque ainda nem tudo estava perdido, quando o caminho estava bem claro.

O poder local sabia o que queria, o seu impulso estava na ostentação dos tempos, no eleitoralismo, nas soluções ocasionais, no facilitismo bem compensado pelas grandes superfícies que tomaram as rédeas a nível nacional e estenderam as influências a partir das ordens e das obediências devidas ao centralismo.

Planos nunca foram desenhados para qualquer intervenção estrutural na baixa de Faro, leis foram postas na gaveta porque feriam os interesses instalados de eleitores e financiadores de campanhas, as paredes e as casas foram e vão caindo, num apodrecimento que tem vários níveis de cumplicidades.

Mas os cúmplices não querem ver e a ladainha continua a ser traço essencial dos discursos.

A baixa está mesmo condenada. E os condenados continuam a assinar. Então do que se queixam?


Luis Alexandre

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